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Educação e Sustentabilidade: irmãs de coração!

A educação foi aprisionada para trabalhar a favor da manutenção da sociedade como está, um modelo devastador socioambiental?

E a sustentabilidade, então foi domesticada, convive e dá retorno financeiro para seus “donos”?

Questões difíceis de serem respondidas, porque são um tanto quanto fatalistas, remetem à inquietação e a impotência, quem está sentado fica com vontade de levantar ou de deitar de vez.

Mas também são questões difíceis porque no mundo não acontece uma coisa só, de tudo acontece, com algumas situações prevalecendo sobre outras, mas em movimentos constantes e concomitantes de idas e vindas, de avanços por um lado e de retrocessos por outro, que vão inevitavelmente amadurecendo a sociedade, mas em um ritmo aquém do necessário. Se em algumas situações educação e sustentabilidade estão presas e domesticadas, em outras elas estão se conciliando e rufando tambores para uma mudança, e junto com isso o tempo urge.

Enfim, não vamos responder as questões acima enunciadas, não é o foco. O foco de atenção é o potencial que há na união da educação e sustentabilidade, elas são irmãs no caminho que amadurece a sociedade, vivem bem quando livres das prisões e domesticações, se realizam na diversidade, na integração da reflexão e da prática, na participação ativa, no compartilhar responsabilidades, na união para a superação de desafios, em tornar sonhos possíveis e no tirar de dentro o que cada um tem de melhor.

Diga-se de passagem, no que diz respeito à ação “tirar de dentro o que cada um tem de melhor” convém trazer que Educação provém de duas palavras latinas - educare e educere -, e em especial o significado de educere, se refere a promover o surgimento de dentro para fora das potencialidades que o individuo possui. Será que no caminho da sustentabilidade educere também está presente?

E no que diz respeito a tornar sonhos possíveis, é necessário dizer que o caminho da sustentabilidade assim se faz, tornando sonhos possíveis, não de forma ingênua, mas desenvolvendo a viabilidade de novas formas de relacionamento entre pessoas e das pessoas com o planeta. Tornar sonhos possíveis é uma ação presente na educação libertadora?

Assim, começamos a estabelecer esta íntima e necessária relação entre educação e sustentabilidade.

Existem dois tipos de irmãos, os de sangue, nascidos em uma mesma família e os de coração, aqueles que se encontram no decorrer da vida criando um elo de acolhimento, crescimento e realizações. A educação e a sustentabilidade se encontraram assim e como irmãs sinalizam a força de sua união para a sociedade: vivas, curiosas, urgentes, estimuladoras, coletivas, singulares, questionadoras, propositivas e transformadoras.

Que tal reconhecermos essa irmandade como legítima e necessária em nosso cotidiano e momento do mundo?

O momento é propício para o encontro e integração da educação e da sustentabilidade, vivemos uma cultura de risco. Os riscos são ecológicos, químicos, nucleares e genéticos, sem dúvida os riscos são sociais, e de alta gravidade, mas nós não conhecemos ainda suas conseqüências a longo prazo.

Enrique Leff em seu livro Epistemologia Ambiental, discute sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemas socioambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento.

Aliar a educação à sustentabilidade representa o ato de assumir um compromisso com a vida, propiciando sua regeneração em seus mais diversos aspectos. Mas como?

Este texto objetiva trazer um pouco de potência aos leitores, já que a carga de informações bombásticas a todo o momento traz um distanciamento de nós mesmos com a possibilidade de mudança deste modelo de sociedade. É muito problema para dar conta!

A proposição: é importante reconhecer a necessidade da mudança, e a partir desse reconhecimento, sejamos educadores ambientais de nós mesmos, criando um compromisso com a mudança de valores, comportamentos, sentimentos e atitudes, cada um conectando seu tempo, suas necessidades e possibilidades com o tempo e as necessidades do mundo de forma gradual e persistente.

Concomitantemente ao exercício do nosso potencial como educadores ambientais de nós mesmos é possível perceber o efeito educador de nossas mudanças de hábitos em nosso entorno, “onde a fala comove o exemplo arrasta”.

Esse compromisso com a mudança se concretiza em algum espaço, seja a casa, a praça, o trabalho ou qualquer espaço de convívio, e a mudança vai tomando forma de dentro para fora e o caminho da sustentabilidade se materializando também de forma gradual e persistente.

Neste movimento que concilia educação e sustentabilidade torna-se importantíssimo reconhecer qualquer pessoa como um potencial educador e qualquer espaço como um potencial espaço educador para a sustentabilidade.

Aliar a educação à sustentabilidade significa propiciar a vivência de caminhos mais sustentáveis, evidenciando a viabilidade destes caminhos, estimulando a reflexão sobre a urgência de nos movimentarmos em direção a uma nova cultura. Esta irmandade nasce e cresce através de nossas ações e reflexões que se dão em nossa casa e nos espaços de convívio.

Karine Silva Faleiros